Indústria projeta um mercado de 110 mil unidades no ano em curso, pouco inferior às 126 mil caminhões licenciados em 2022, mas bem acima da média das 80 mil unidades dos últimos sete anos
Depois de vivenciar momentos de fortes emoções em 2022, diante dos inúmeros obstáculos que surgiram ao longo do caminho e a necessidade de atender à pressão da demanda pós-pandemia, os fabricantes de caminhões projetam um cenário pouco melhor em 2023, mesmo que os volumes sejam pouco inferiores aos do ano passado. Como mostrou a edição de Frota&Cia que traz o Ranking 2022 do Mercado de Veículos Comerciais, os licenciamentos no período totalizaram 126 mil unidades, 1,6% a menos que os 128 mil emplacamentos contabilizados em 2021, garantindo assim o segundo melhor resultado do setor desde 2014.
No esforço de fazer um balanço do que passou e as projeções para 2023, na visão dos próprios fabricantes, Frota&Cia ouviu representantes das marcas que alcançaram o topo do ranking no mercado de caminhões no passado. E, por isso, foram reconhecidas com o Prêmio Lótus Campeão de Vendas 2023, que esse ano completou sua 30ª edição.
José Ricardo Alouche (foto), vice-presidente da Vendas, Marketing e Serviços da Volkswagen Caminhões e Ônibus, admite que o ano de 2022 foi realmente espetacular, frente às dificuldades sofridas por toda a indústria. “O mercado tinha potencial para ser muito maior, não fosse a falta de componentes – em especial os microchips – que provocaram atrasos na produção. Os diversos segmentos do mercado tiveram uma reação positiva que surpreendeu a todos”.
Segundo Alouche, a difícil equação de dispor das peças para atender o mix de produtos desejado pelo mercado contribuiu para o número inferior no ano, o que não foi de todo ruim no caso particular da VWCO “Graças à flexibilidade de nosso sistema produtivo – o consórcio modular – conseguimos atender ao mercado da melhor forma possível. E ainda colher os bons frutos do nosso relacionamento com os clientes”.
Prova disso foi a reafirmação da liderança da empresa no mercado de caminhões, pelo segundo ano seguido. E a conquista de sete certificações do Prêmio Lótus 2023, pelo domínio nos segmentos de caminhões médios e semipesados. Incluindo o reconhecimento de quatro veículos da marca, por alcançaram o topo do ranking em suas respectivas categorias.
Escolha difícil
Segunda colocada no ranking de fabricantes, a Mercedes-Benz, atribuiu o recuo de 7% no volume de licenciamentos em 2022 à falta de componentes, principalmente. E, também, à extensão do seu portfólio de produtos, como explica Jefferson Ferrarez (foto), diretor de Vendas e Marketing Caminhões da empresa. “Quando se tem uma linha completa como a nossa, que vai dos leves aos extra-pesados, é preciso escolher qual produto deve ser mais privilegiado, em tempos de escassez de peças. O que, fatalmente, prejudica a produção”. Mesmo assim, o executivo acredita que o balanço do ano é positivo, já que os pedidos voltaram porque os clientes precisavam dos veículos.
Mesma opinião tem o diretor Executivo de Caminhões da Volvo, Alcides Cavalcanti (foto), ao afirmar que o ano se comportou bem, apesar dos problemas com a cadeia logística. “No caso dos caminhões pesados o prejuízo é ainda maior, porque são veículos com forte conteúdo importado”. Para a Volvo, em particular, o impacto só não foi pior por conta ao excelente desempenho da linha VM de caminhões semipesados. Os licenciamentos saltaram de 3,8 mil unidades para 7,2 mil no biênio 2021/2022, mostrando uma evolução de 88%, bem acima da média da indústria que avançou 8% apenas. “Os semipesados tiveram uma performance muito positiva, em função dos setores de construção, mineração e cana-de-açúcar, também chamados de vocacionais”, explica Cavalcanti, satisfeito com os 10% de crescimento no volume total de licenciamentos no ano passado e os 19% de market share, ante 17% do período anterior.
Crescimento sustentável
Igualmente satisfeito com os resultados no ano, Ricardo Barion (foto), da Iveco, comemora os quase 23% de evolução nos emplacamentos. E o ganho de 6,7% para 8,3% na participação de mercado da marca nos caminhões. O executivo atribui a boa performance ao processo de reestruturação da empresa, que já vem acontecendo há três anos. “A consequência é um crescimento sustentável, apoiado em fortes investimentos na linha de produtos, na rede de revendas, bem como atendimento ao cliente”.
Para o diretor comercial da Iveco, o balanço do ano é igualmente positivo, não obstante a falta de componentes e os problemas logísticos como a escassez de contêineres, que marcou o segundo semestre do ano. “Para compensar tivemos a Fenatran que ajudou a alavancar as vendas, além do bom desempenho da agricultura, que impulsionou as vendas de pesados”.
Os bons ventos do agronegócio também alavancaram os negócios de uma marca recém chegada no mercado de caminhões, a RAM, que integra o Grupo Stellantis. Em apenas dois anos, a Ram dominou o segmento de caminhões semileves e o modelo 3500 lançado no ano passado se tornou o preferido dos produtores rurais endinheirados, que buscam um veículo que combina luxo e força, para uso no campo ou na cidade.
Juliano Machado (foto), gerente Senior de Marketing de Produto da Ram, admite que a indústria sofreu muito no ano passado, diante da falta de peças e problemas logísticos. Porém, o segmento de caminhões semileves registrou um avanço de 23% no último biênio, enquanto a Ram cresceu 46% no volume de licenciamentos. “Por necessitar de menos componentes eletrônicos, os veículos semileves sofreram menos que as outras categorias de peso do mercado de caminhões. Outro fator que pesou a favor foi o crescimento do e-commerce e as entregas da última milha. Sem contar, é claro, o bom momento do agronegócio, nosso principal mercado. Um segmento que não teve crise, muito pelo contrário”.
Projeções 2023
Para 2023, as previsões são mais modestas, com tendência de queda, na visão da maioria dos entrevistados. Ricardo Alouche faz coro com as projeções da Anfavea, que calcula vendas 11% menores em comparação a 2022. Contudo, isso não significa que o mercado irá esfriar, apressa-se em explicar. “A introdução da tecnologia Euro 6 certamente vai impactar o mercado esse ano, porque traz um aumento de preços. Acho que toda a indústria terá alguma dificuldade no início, uma desaceleração da produção no primeiro semestre e volumes mais estabilizados na segunda metade do ano”.
Mesma opinião tem o representante da Mercedes-Benz, que acrescenta outros obstáculos no caminho. “Além do fator Euro 6, temos de considerar as elevadas taxas de juros e o custo operacional crescente, como fatores que podem inibir a expansão das vendas de caminhões no ano. O panorama sombrio, contudo, não impede que possam surgir algumas surpresas no período. “Em alguns setores da economia, como é o caso da agricultura que projeta uma safra recorde de grãos, além do mercado de mineração e construção civil, as perspectivas são bastante positivas, o que pode impactar os negócios de caminhões”, comenta o diretor da montadora alemã, alinhado com a projeção da Anfavea que estima um volume de 110 mil unidades licenciadas no ano.
Alcides Cavalcanti, da Volvo, confirma que 2023 ainda é um mercado de muitas incertezas, com tendência de um leve recuo nas vendas. A exemplo de seus colegas da indústria, o diretor cita a pré-compra de veículos Euro 5, a alta dos preços dos modelos Euro 6, de 20% a 25%, a elevada taxa de juros, aliada à incerteza econômica, como fatores inibidores do crescimento.
Mais otimista, Juliano Machado, da Ram, aposta em um crescimento do mercado, ainda que modesto. “Não haverá uma expansão exagerada, já que estamos vivendo a guerra na Ucrânia, problemas de insumos, a instabilidade do câmbio e uma incerteza da economia global. Mas, continuamos apostando e um aumento das vendas em 2023, já que a nossa intenção é manter essa marca forte no mercado”, afirma com convicção.
Fonte: Frota & CIA
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