Porcentagem está em vigor desde o início do mês e levanta preocupações sobre custos e desempenho nas transportadoras; próxima alteração será em 2025 com 15% adição
O percentual da mistura de biodiesel no diesel aumentou de 12% para 14% em março. A decisão de antecipar o cronograma de aumento da mistura de biodiesel foi tomada em dezembro de 2023, pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). A próxima alteração será em 1º de março de 2025, quando o diesel passará a ter 15% de biodiesel (B15).
Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária, a medida deve evitar a emissão de cinco milhões de toneladas de CO2 na atmosfera e reduzir a importação do combustível fóssil. Além da descarbonização, o modelo traz ganho para segurança energética brasileira, pois economiza a importação de 2 bilhões de litros de diesel.
EMPRESÁRIOS DO TRC TEMEM IMPACTOS
No entanto, a adição de biodiesel e os impactos no transporte rodoviário de cargas (TRC) foi tem central da recente Conferência Nacional dos Estudos em Transporte, Tarifas e Mercado (CONET&Intersindical), realizada no último mês pela Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística). Empresários do setor expressaram as crescentes preocupações em relação ao aumento do percentual de biodiesel no diesel.
A alteração causou considerável agitação em setores que dependem desse combustível, como é o caso do TRC. Estudos técnicos realizados pela CNT por meio da Universidade Federal de Brasília (UnB) indicaram um impacto negativo expressivo em termos financeiros e ambientais quando há elevação do percentual da mistura.
José Alberto Panzan, diretor da Anacirema Transportes e presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas de Campinas e Região (Sindicamp), destaca os principais impactos que as empresas de transporte rodoviário de cargas podem enfrentar com essa mudança. “Atualmente, não podemos afirmar que temos um biodiesel de boa qualidade. Com o aumento da mistura para 14%, será necessário avaliar diversos pontos, como o sistema de filtragem de combustível dos veículos, e com isso prevê-se um aumento no número de paradas para trocas, causando uma diminuição da produtividade e disponibilidade operacional”.
A proposta desse aumento tem como objetivo acelerar a descarbonização da frota, além disso, aprovou-se na Câmara que, até 2025, será acrescentado 1 ponto percentual de mistura anualmente, até atingir 20% em março de 2030, segundo metas propostas.
A CNT advoga pela manutenção de uma proporção inferior a 7% na mistura, alinhando-se à prática adotada por nações europeias. A confederação argumenta que, dessa maneira, seria possível alcançar um equilíbrio mais eficaz entre os aspectos econômicos e ambientais. Do ponto de vista da indústria de caminhões, não há oposição à inclusão de misturas contanto que não excedam 15%.
“Diversos países têm aplicado percentuais maiores de HVO (sigla em inglês para óleo vegetal hidrotratado – diesel verde), biocombustível mais evoluído e que não causa problemas mecânicos, em detrimento do uso de biodiesel de base éster”, disse a CNT em nota.
O executivo acredita na necessidade de reavaliar o teor atualmente implementado, razão pela qual o apoio de entidades de classe do setor é essencial para uma discussão mais ampla com os órgãos reguladores.
“As entidades do setor, representando os principais usuários do combustível que são os transportadores, não foram consultadas sobre essa mudança. A CNT conduziu um estudo prático sobre os impactos do aumento na mistura, propondo alternativas, como o biodiesel do Uruguai, com menor impacto nos motores. Os sindicatos aconselham a revisão das políticas de filtragem e de injeção dos veículos, instruindo a comunicação dos impactos dessa alteração na mistura”, afirmou.
Segundo projeção da Leggio Consultoria, divulgada pelo G1, o aumento no preço do diesel B será de 0,6%, sem considerar impostos e custo de distribuição.
SUSTENTABILIDADE X ESTRATÉGIA ECONÔMICA
Em entrevista exclusiva à MundoLogística, o coordenador do Programa de Logística Verde Brasil (PLVB), Márcio D´Agosto, enxerga esta política sob dois aspectos: ambiental — o que entra nas contribuições nacionalmente determinadas com as Nações Unidas para redução das emissões de carbono — e para diminuir a dependência do diesel ou de petróleo.
“Hoje, mais de 40% de toda energia consumida em transporte, de uma forma geral, passageiro ou carga, é diesel. Temos uma dependência de uma fonte de energia não renovável — onde não temos muito domínio sobre o preço desse insumo — que representa uma fração em torno de um terço do custo operacional do transporte rodoviário, seja passageiro ou carga, e necessário encontrar outra fonte de energia. Se tem um programa de aumentar progressivamente essa fonte renovável, eu estou atendendo essas duas letas: ambiental e estratégica econômica.
O especialista relembrou que o diesel dobrou de preço na época da pandemia, impactando diretamente a economia. Por isso, o aumento progressivo é justamente para tentar ajustar as questões técnicas que pode ter da adição de um combustível que não é exatamente igual ao diesel.
“O biodiesel é um éster e o diesel é um hidrocarboneto, duas substâncias químicas que não são iguais. Mas o biodiesel, a princípio, se tomados os cuidados técnicos necessários da atração dos motores — que basicamente é o tipo de material que você usa na composição de motores e do sistema de alimentação — não causa problema em uma fração desse tamanho, se está falando de chegar até 20%. Lembrando que tanto a Scania quanto a DAF, aqui no Brasil, já declararam que fabricam caminhões que podem rodar com 100% de biodiesel, então, a princípio, as questões técnicas estão separadas”, disse.
Fonte: Mundo Logística
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